segunda-feira, 28 de janeiro de 2008

Ferro velho

Minha vida - e aqui não me refiro apenas à vida afetiva - é uma sucessão de fracassos (se imaginarmos que "sucessão" poderia ser aumentativo de sucesso, "sucessão de fracassos" é uma ironia). Então vou vivendo, me arrastando pela vida, pelos dias pelos meses, rastejando, deixando meu rastro gosmento como o de uma lesma, e deixo-me engolfar por esse consumismo febril que se alastra pelo mundo, compro uma coisinha ali, outra aqui, como uma criança sempre pedindo novos brinquedos, como um neném balança seus brinquedinhos pendurados no berço, essa é a minha diversão, a anestesia dessa vida monótona: então é pra isso que eu queria trabalhar e ganhar dinheiro? Essa é a minha vida. Como deve ser a da maioria das pessoas do mundo. Algo modorrento, um ano se amontoando em cima do outro, virando um entulho.

Minha vida:


Ando namorando fantasmas...

sábado, 5 de janeiro de 2008

Ventando...

Roubando post de novo, mas antes roubaram minha alma pra escrever isto:

meu deus, se eu tiver que pedir uma coisa só, me livra primeiro dessa vontade de falar de mim. depois, me faz mais pedra, mais ponta, mais sal. arranca de mim esse medo, me livra da ternura vazia, espanta a leveza de mim. ou então transforma minha solidão em pano, e me envolve, me cobre, me veste: faz do meu medo uma pele. e, se eu merecer, me dá olhos escuros, me mostra um silêncio mais fundo, me ensina outra alegria, uma que não seja tão parecida com a dor. eu queria também amar coisas mais fáceis, se for da minha sina e do meu merecimento. queria menos livros e mais janelas. um vestido com menos pano, um corpo com menos receio de ser só corpo. um corpo mais físico, entende. queria também sentir um amor mais justo, um de querer menos, de aceitar mais. me ampara também quando eu tiver medo de ser rasa, me conforta quando eu for bruta e sem jeito. me afasta de tanta perplexidade, meu deus. me faz simples, me faz chão, me faz terra. faz de mim também um lugar bom para o choro, me dá uma linha mais firme, um bordado mais limpo. e, se ainda puder, coloca mais do mundo em mim, me tira um pouco do prazer da solidão e do amor pela estranheza, me dá mais vontade de sentar à mesa, de sorrir sem felicidade, de dar as mãos por gentileza. por fim, eu peço uma vida mais limpa, mais centrada em si mesma, sem tanto medo do que não existe, sem tanta paixão pelo ar. amém

by: http://www.fotolog.com/priscillamenezes

Giramundo Giraeu Girassol na fita




Tudo bem que é ano novo. Mas vamos lá, realmente mudou alguma coisa aí dentro só porque você rasgou (mais) um calendário?Espero, sinceramente, que não. Mudanças com hora marcada têm gosto de plástico.Tenho experimentado pequenos conflitos diários, desses que a gente quer se livrar a todo custo, porque perturbam a linearidade de um pensamento que, há muito, estava acostumado a se camuflar em subterfúgios. Aos poucos, descobri que são eles, esses pequenos conflitos diários, que promovem o meu mudar. São eles que me fazem perceber. E perceber aqui, é verbo intransitivo.Essa é uma das magias do viver cotidiano, a percepção de como, passo a passo, nos transformamos.E não, não é fácil. Viver tem um preço. Às vezes é preciso força para fazer valer o que se paga.Mudar não acontece em um átimo. É processo. E cada tem o seu. Uns vão mais rápido que outros. Alguns estacionam porque se cansam fácil. E existem aqueles que nem tentam, porque se acostumaram ao determinismo de uma vida inventada.Hoje não acho, realmente, que o réveillon seja apenas mais uma passagem, uma festa para rasgar calendários. É, sim, mais um dos muitos rituais que permeiam nossas vidas. Compreendi que nem sempre o que vale para uns, é igualmente importante para outros. E que não adianta marcar dia e hora para mudar. Porque não acontece assim. O processo é quase imperceptível e, algumas vezes, até mesmo doloroso. Mas, um dia, de repente, nos deparamos com a beleza mágica de um salto quântico. Tudo muda e esquecemos que para isso, foi preciso viver a normalidade dos dias fáceis e o pesar das horas difíceis.Por isso, em uma das muitas leituras que faço de felicidade e de vida, escuto sempre Paulo Freire surrurrar no meu ouvido, com a doçura e a simplicidade de quem soube transformar o cotidiano: "o mundo não é, o mundo está sendo".Então, que em 2008 você "seja". Todo dia. O tempo todo.E comemore.