domingo, 11 de maio de 2008

Surto criativo

E de repente a poesia era tóxica
ou ela se afogava num tubo de nanquim.

Inalava as letras todas
até a caixa toráxica
e asfixiava-se
e chegava ao fim.
E ela tinha o rosto suado e as olheiras escorriam pelas suas faces, e enquanto falava expelia perdigotos.
... e se eu começasse a publicar posts repetidos como um disco que agarra?
Queimou a lâmpada do vaga-lume.
Acabou a pinga do vagabundo.

Amassei o pára-choque
ao som de Paralamas.
Não sei do seu paradeiro.
Não entendi a parábola.

Só resta comer carambola.
Estupro sua mulher
chuto o seu cachorro
roubo um cigarro do seu maço.

Arranho seu carro
quebro o espelho
mas assumo tudo o que faço.
Não tenho nada:
nenhuma qualidade e nenhum defeito.
Não sou amiga de ninguém:
nem do mendigo e nem do prefeito.

Não peço esmola a nenhum cidadão:
Pago o meu próprio preço
de viver num mundo cão,
como mereço.

Vivendo esta vida rude
em que quase nada pude
pergunto-me então:

Terá sorte o embrião?
Ou será que a mãe, que o embala,
também o ilude?

sábado, 10 de maio de 2008

A esperança é algo que me gera certa curiosidade: o que a gente acha que vai acontecer de tão fascinante no futuro (seja ele breve ou distante) a ponto de nos fazer continuar desejando viver?

sexta-feira, 9 de maio de 2008

O médico viu o lampejo de loucura nos olhos da cobra e sentiu medo.

Verde híbrido




É só tirar o foco de uma foto, e o impressionismo já não foi nunca autêntico...

Poema para não mofar coração virgem

Os girassóis já brotam mofados
E escorridos de lágrimas adocicadas
Mas quando o sol de leve mordisca suas pétalas
Eles se eriçam todos como uma virgem levantando apetitosamente sua saia
Para sua primeira refeição nupcial.

quarta-feira, 7 de maio de 2008

?????

Pontos de interrogação juntando uns nos outros os tijolos das idéias...
A espera seca enquanto ele dorme seu sono plácido...

Quando ele virá banhar com suas lágrimas esse beco escuro onde moro?
Onde o arco-íris num céu cinzento?

segunda-feira, 5 de maio de 2008

Chover pétala por pétala e me transformar numa rosa nua: “a fresta da carne”, ferida que não se fecha nunca e aspira a um dia, quem sabe, ser cicatriz.

domingo, 4 de maio de 2008

sexta-feira, 2 de maio de 2008

Revertério

bolço de sangue jorrado no mármore alvo
E ela passou bastão labial de cor vinho em torno dos seios arredondados e intumescidos cujos mamilos tinham a textura e a cor de casca de maçã.

Releitura de Dorian Gray

Era uma mulher jovem, mas tinha aspecto envelhecido, a pele acinzentada, os dentes amarelados, cabelos desgrenhados... e tinha uma expressão débil: expressava-se debilitadamente. Adentrou numa concha de caracol e lá ficou em posição fetal, até definhar e morrer. Quando encontraram o cadáver, sua pele parecia de bebê, os dentes eram de leite, cabelos sedosos e os olhos abertos eram expressivos.

quinta-feira, 1 de maio de 2008

Muletas

Eu sempre amei o surrealismo: acabei me transformando num quadro de Salvador Dali. Eu admiro João Cabral de Melo Neto porque ele era exatamente o oposto do que eu sou: execrava o surrealismo, abominava o romantismo, não suportava música, escrevia poemas totalmente metrificados.
Se três triângulos estão superpostos e a área do primeiro (de baixo para cima) é igual à do terceiro multiplicado por duas joaninhas cobertas de chantili de argamassa de risada macia menos duas garrafas d'água dividido pela Vênus de Milo Engavetada, qual a área do segundo triângulo?

segunda-feira, 21 de abril de 2008

Necrofilia

Fiz do meu corpo sepultura.
Mas quando vieram exumar o cadáver
não deixei de,
na minha rigidez cadáverica,
gozar.

Lastro a lastro

a Maíra

Eu me rasgo nesse rastro.

O perfume de fruta perfura
narinas esquálidas.
O suor adocicado
escorre nas espáduas.
Tantas frontes pálidas
não têm raiz quadrada.
Mas a resposta certa
a todos será negada.

domingo, 20 de abril de 2008

A Onfray

No post do blog do colega, a pergunta: "Qual o seu maior desejo?" Uma das respostas: "Ser rica." Então eu penso que é provavelmente a mesma resposta que a minha, embora eu tenha passado toda a vida negando esse desejo por causa da educação religiosa que tive reprovando a vida material. E se eu tivesse sido mais ambiciosa, mais inteligente e mais hedonista (ou seja: menos religiosa), teria cursado uma faculdade que pudesse me levar a exercer uma profissão melhor, ao invés de ter me tornado professora e ganhar uma mixaria como salário, como é a realidade atual! Resumindo: sou infeliz e muito provavelmente a religião é uma das culpadas por isso, inclusive culpada com certeza por me fazer sentir culpa (não a culpa sexual - que essa não tenho - já que os freudianos de plantão insistem que tudo é relacionado a sexo. Mas lembrar-me da culpa sexual fez vir à minha cabeça uma sátira da revista TPM: Nina Lemos criou o "Santo padroeiro da culpa católica", com uma página com 6 santinhos para se recortar e distribuir - à moda dos fiéis - com a foto de um "santo" gato com o pau na mão, e uma oração irônica na parte de trás. A TPM é bem superficialzinha, coitada, mas, atire na igreja católica - sim, com letra minúscula - e me conquiste. Aliás, não é que o Papa Bento XVI tem sido mais coerente ultimamente? Deve ter visto que fez muita merda, deve ter percebido estar indo contra a opinião pública. Mas mais retrógrado que ser contra as pesquisas com células-tronco embrionárias, não há!)

Gota gorda

Se ave pudesse ter complexo de inferioridade e raiz quadrada de quarenta e um pudesse ser exata, veias grossas explodiriam sob a pele, eriçando-se sangüíneas rumo ao ventre inchado, enxada: pá que cava, cava. Cava a dor abutre cruel da cólica menstrual, menstruando todas as linhas telefônicas, por isso que eu ligo e só dá ocupado, raios!

sábado, 19 de abril de 2008

Click

Vontade de sair por aí, máquina fotográfica na mão, congelando pequenas "banalidades" cotidianas - ou nem tão cotidianas assim: um inseto colorido, uma semente caída no meio da rua, um carteiro em seu ofício, uma latinha de Red Bull usada como vaso de plantas numa república de estudantes, enfim, essas coisas aparentemente superficiais, mas que preenchem nossas vidas como brindes extras que ganhamos do acaso.