terça-feira, 30 de outubro de 2007

"(...) vivo o inexorável paradoxo da escolha de ser o que não planejei."

by http://giramundogiraeugirassol.blogspot.com/

segunda-feira, 29 de outubro de 2007

Acima da minha cama há um quadro de rosas todo em madeira. As rosas se sobrepõem, em três níveis de relevo acima do fundo. Há rosas de cores suaves, outras mais vivas e alegres. Nos jarros há pátina. O quadro não tem assinatura. Isso me intriga. Por quê tão belo trabalho não vem assumido por seu minucioso autor? Terá sido mais de um autor? Porque disseram na loja onde foi comprado que ele é de uma “empresa de decoração”, por isso não tem assinatura... Mas que mãos anônimas produziram tão admirável quadro? Pois é um trabalho feito à mão. E a empresa – nem dela há o nome no quadro, nem atrás – sufocou o(s) artista(s) do magnífico quadro, relegando-o(s) ao anonimato...

Fato real

(juro de pés juntos - como se isso fosse de fato uma comprovação... - que não é ficção):

Minha avó paterna serviu refrigerante de guaraná no copo e bebeu um gole:

-humm, tá azedo!

E misturou açúcar e tomou (o refrigerante, engraçadinhos!) satisfeita!

Lembretes

1. comprar gibis da Turma da Mônica para intercalar com minhas maçantes leituras;

2. comprar cocaína (pois a nicotina não está dando conta do recado);

3. comprar (qualquer coisa. Afinal a regra é consumir!).

domingo, 28 de outubro de 2007

Quase não saíra naquele verão. As cortinas baloiçavam-se ao sopro do vento enquanto ele roía várias maçãs arenosas e pouco suculentas. Esse era seu lanche seco. A máquina de escrever empoeirava num canto, enferrujando ao som de Bach... Cortava-se com canivete, criando sulcos em sua carne da qual brotavam rios rubros e vivos e espessos, caudalosos... Manchas de sangue pelas paredes... Fumava maços e maços de Blend, espremia a brasa acesa do cigarro contra a pele. Cicatrizes que iriam marcar aquele tempo de reclusão. A névoa de nicotina evolava-se no ar, condensada no quarto estreito. Pintava quadros com tinta acrílica: marrom, amarelo, ocre. Fazia tempo que não se dedicava à cerâmica. Molhava algodão com acetona para efeitos em suas telas. Uma vez também usou carvão. Traçou o rosto de Sofia com precisão. Depois bateu uma punheta e ejaculou no retrato. Pincelou a porra em cima do carvão, para dar um efeito esfumaçado. Assim pareceu-lhe mais nítido.
Numa noite bebeu álcool de cozinha: não queria sair para comprar vodka. Se bem que preferisse cachaça.
Decidido, num relance pintou um feto abortado em tons de cinza e rosa e sentiu que era um auto-retrato. Quando acabaram seus maços de Blend, fumou O Processo, de Kafka: sentiu gosto de barata!
Revirou uma gaveta antiga e achou um charuto cubano: presente de um amigo que falecera ano passado. Derreteu o charuto e com ele pintou outra tela. Ouvia de seu recinto os favos das árvores estalarem: trec - squint - cleq
Decidiu finalmente se alforriar e assar uma leitoa para Berta, sua única amiga no momento. Temperaria com suco de goiaba e serviria com gorgonzola. Cerveja preta para acompanhar.
Ele fotografou o pôr-do-sol
Escrevia especialmente para alguém que nunca a lia. Era uma desnudadora de nuvens, pastora de um rebanho amorfo e indisciplinável.
Depois de sair do estábulo, ela iria ao Shopping Center, onde havia um Pet Shop, e compraria pasta de dentes para sua égua Karina. Karina não poderia participar da corrida de amanhã sem que seus dentes estivessem brilhando. Não que normalmente seus dentes não fossem escovados, a pasta apenas havia acabado; no estoque do estábulo não havia nem mais uma unidade.
Mas no caminho do Shopping, Viviane viu uma linda orquídea que não hesitou em comprar. Ficaria linda na mesa da sala de estar. E receberia visitas ainda nessa semana: seria um belo ornamento!
Como estava feliz!
Ainda não sabia se ordenava à cozinheira que fizesse mousse de gorgonzola ou patê de espinafre. Era certo que uma coisa não combinava nada uma com a outra e ela teria que decidir por um dos dois! E para sobremesa, o que servir? Meu Deus, em quanta coisa tenho que pensar!
Ligou de seu celular a seu motorista particular, ao qual havia pedido que a deixasse duas quadras antes do Shopping, assim pôde se deparar com a magnífica orquídea. O motorista a pegou na floricultura; ela que não iria entrar no Pet Shop com uma orquídea na mão, o que poderiam pensar? Que ela não tinha criadas que carregassem a orquídea para si? Mas também não deixaria a flor sob os cuidados do motorista, que de jardineiro não tinha nada! Por isso foi ela em pessoa à casa deixar a bela planta com sua criada, que a colocaria no seu jarro de vidro finlandês.
Quando voltava ao Shopping, pensou: preciso trocar meu celular! Já tem DOIS meses que estou com esse!
E depois de comprar a pasta de Karina iria ao salão de beleza cuidar de seu cabelo!
No Pet Shop viu uma linda fita que comprou para enfeitar Karina.
Pagou a fita, ligou para Onofre, o motorista, e, quando chegou em casa, lembrou-se que havia esquecido da pasta de dentes de Karina!
"Meu Deus, como sou uma mulher ocupada!"
O computador, que atrapalha a leitura, tem fortes grades de ferro que não deixam passar a luz do luar.
Flores no cabelo são bregas, mas aquelas duas cor-de-rosa até que dariam um belo par de brincos. Foi quando Ugo bebeu o licor prateado de hortelã. Quase sufocou. Mas apenas deu uma risadinha sarcástica.
A penugem escarlate da colcha da cama era acariaciada por Madame Ricocholette, que quase nunca comia queijo.
E seus dentes afiados eram brancos como uma noite banguela.
Quase amanheço nesse verão.
Nunca é tarde para cessar o olhar sobre o mundo.
Cessou?
Ainda não.
Gosto de confetes.
Não, não os de carnaval, os de chocolate mesmo.
Purgante?
Não, obrigado.
Ah, sim, cravos aceito.
Mas as uvas estão ácidas.
Sim, elas morrem de inveja da tartaruga.
Oh, como esse ruge me dá alergia! Sinto cócegas nos braços!
Nas pernas?
Sim, nas orelhas.
Pena que ele se foi anteontem!

sábado, 27 de outubro de 2007

Estou com medo de tanta coisa que nem parece que eu já vivi tanto... Sinto-me um bebê. O passado está morto, não significa nada, não ressoa na minha alma. Tudo é novo e difícil e mete medo. Não há chão, não há cama, não há repouso. Ninguém para me abraçar e me dizer que não é preciso ter medo. Sou uma criança apavorada, temendo esse universo tão imenso e cheio de estrelas...

quarta-feira, 24 de outubro de 2007

Cerzida

Descreveram-me tão bem aqui, que eu fiquei até intimidada: http://4delicatessen.blogspot.com/2007/08/cerzida.html

terça-feira, 23 de outubro de 2007

osnod

Refeição apetitosa

pelúcia ardente da lagarta
servida numa bandeja de prata

cílios pretos
no cilindro
que enovela-se sobre si próprio
ciciando

termino tudo com uma pisada crocante
escorre o caldo que vai temperar meu alimento

segunda-feira, 22 de outubro de 2007

esmalte magenta descascando: maçã mordida.

domingo, 21 de outubro de 2007

Terra árida.
Fecunda nada.
Terra árida.

sábado, 20 de outubro de 2007

Quando as borboletas dançavam no ar com suas asas prateadas e azuis...

Mas agora só lobos devoram meu coração, com seus caninos ensangüentados, ávidos pela carne crua e viva que, dilacerada, agoniza, mas não morre.

sexta-feira, 19 de outubro de 2007

Insensível

Ela não vê o terremoto dentro de mim.
Por isso para ela tudo é tão simples...

quarta-feira, 17 de outubro de 2007

segunda-feira, 15 de outubro de 2007

Oração aberta

Deus,
já que você é inegável,
livra-me da política
(sem que eu me torne apolítica),
assim como de todos os outros males,
Amém.

Revolta da criatura

Deus - seja lá o que isso for - é tão vaidoso que criou várias ciladas para que no final das contas a gente TENHA que acreditar nele!

sábado, 13 de outubro de 2007

Quase-autismo

Ai que vontade de abraçar alguém, não sei quem
dar um chute na bunda da minha namorada Carência

Mandar ela pra fora da Via Láctea
pra que ela chupe dedo até sair leite

E me deixe em paz!

Mas ela é ciumenta
não deixa ninguém se aproximar de mim

Vive me vigiando de sua sentinela
Com olhos bem abertos
e fuziladores.

Mais que ciumenta, possessiva:
doente

E eu ranjo os dentes
que não mordiscam ninguém

Carentes de outros dentes

que saibam morder delicadamente
como se sorve uma fruta

há quanto tempo não sou p...

Cerrada numa cela entrincheirada do mundo!

Susto

E eu era uma fantasma preto rezando submissa em frente a uma vela, ajoelhada e cabisbaixa.
À minha volta havia um burburinho, um monte de vozes vivas sussurrava.
De repente, uma delas me disse:
- Você está viva!
E eu gritei.

quarta-feira, 10 de outubro de 2007

Até quando
sementes
estaremos entregues
a este passar sobre a terra
exausta de nos esperar?

Até quando havemos de sonhar
ser flor e fruto
e não a dor infinita da morte
do teu olhar?

{Cruzeiro Seixas}

fonte: http://www.prahoje.com.br/bill/?cat=10

domingo, 7 de outubro de 2007

Purgatório

A madrugada estava triste como sua alma. A vida lhe parecia um erro. Tanto já havia chorado, gritado e se desesperado que mal lhe restavam forças para respirar. Tudo que havia feito, que havia deixado de fazer, que havia dito e ouvido fazia a cabeça girar. A última discussão ecoava ininterruptamente em seus pensamentos. Cada insulto e agressão parecia cortar a pele, e um súbito sentimento de culpa sufocava o coração. Tirou toda a roupa despindo-se de seus problemas, um a um, peça por peça. Ligou o chuveiro e deixou a água gelada cair sobre a cabeça. Sentiu o choque térmico e tremeu, mas não recuou. Esvaziou a mente. Parou de pensar para simplesmente sentir cada gota que molhava seu corpo. Ensaboou-se delicada e milimetricamente, como se aquele fosse o último e o primeiro momento de sua vida. Viu descer pelo ralo toda a sujeira, dor, culpa e tristeza que antes carregava. Assim foi seu purgatório. Saiu do banho purificada, e vendo os primeiros raios de sol iluminarem e aquecerem a cidade, teve a certeza absoluta de que tudo ficaria bem.
(Esse blog está virando uma releitura de outros blogs e espaços! Só reproduzo o que é dos outros! Será falta de inspiração? Humildade para reconhecer que outros escrevem melhor o que eu escreveria se exteriorizasse o que sinto? Simples afinidade? De qualquer forma, é maravilhoso esse intercâmbio, essa "rede"! E é ótimo também a gente poder homenagear nossos "irmãos" blogueiros!)

Constatação

Morgana, saiba que a religião de Cristo veio, sim, e transformou o Galhudo em Demônio, acabou com a Mãe, mas que a religião da Deusa, após mais de 2000 anos, está renascendo das cinzas. E com toda a força. É a nova era, é a era da Igreja Católica ruir. Morgana, você tentou salvar sua religião da morte, sendo rígida, e não adiantou: ela morreu, apesar de estar renascendo agora! E o atual papa está fazendo a mesma coisa que você fez após o manso e sábio Merlim - não, não Kevin, o traidor; o anterior -: após o manso e sábio João Paulo II, está sendo radical. O que não vai impedir que a Igreja Católica caia. Afinal suas bases já estão corroídas há muito!
Acordar dói
(...)
O tempo espera-se em pintar-se
de branco
para cegar uma cor
mas a minha flor abria-se de
pétalas
e as várias mãos escreviam um
piano por cima de teclas grãos vários
seguidos uns aos outros.
(...)

{António Gancho}

copiado de http://www.flickr.com/photos/realidadetorta/1487535598/ (mas os créditos são de António Gancho, como já foi explicitado)

Meu sussuro é geada na sua vegetação

amor inútil
coração réptil

eu: fezes que adubam uma flor-amor-mofo

Não tenho estofo
para te conquistar.

Eu adoro o ventar

"Inconfesso-me: é que tu me dóis por todos os lados: é que tu és tão vida e eu sou tão andar pela noite e acordar cedo e não saber ir mais além. Fica. Cobre meu chão com as tuas roupas, me empresta tuas minúcias. Enfeita minha casa com teus rastros, me deixa morar com teus livros tuas roupas teus discos e toda tua beleza que transpassa o teu corpo. E se eu te sorrio tão calma tão dentro do meu sorriso é que minha boca queria te dizer umas tantas coisas que não têm nada a ver com as palavras. Assim como um mergulho fundo, quando é preciso fechar os olhos, cessar o respirar, desprender-se do ouvir e simplesmente abandonar o corpo a uma nova profundidade. Fica: transitemos entre nós: vamos de mim a ti e então deixemos de ir e fiquemos: que ficar é como ser, só que mais perto."

créditos: http://www.fotolog.com/priscillamenezes

Porque eu sei que não fui eu quem escrevi, mas tais palavras incorporam perfeitamente meu sussurro em potencial.

quinta-feira, 4 de outubro de 2007

Torre de Babel

Muito tem se falado em polifonia ultimamente. Mas tal polifonia tem me soado um ruído no qual não se distingüe nenhuma voz com clareza. O sistema (sim, o sistema. Podem me chamar de "conspiratória", se forem ingênuos) quer é nos calar o tempo todo. Então essa poluição sonora é a forma de tornar todo mundo mudo, pois na verdade ninguém é ouvido.

segunda-feira, 1 de outubro de 2007

As pessoas que parecem mais insanas são as mais lúcidas. É, é difícil conviver com lucidez excessiva. E a realidade é absurda, então quem pensa a realidade, pensa absurdamente.

Masturbador convicto

Pra você
sou apenas uma garotinha mimada

cultivando um amor

que não te interessa.

Você não rega essa semente
ela atrofia
abortada.

Meu coração se transformou num masturbador convicto
gozando sozinho sonhos que jamais se tornarão realidade.