domingo, 7 de outubro de 2007

Purgatório

A madrugada estava triste como sua alma. A vida lhe parecia um erro. Tanto já havia chorado, gritado e se desesperado que mal lhe restavam forças para respirar. Tudo que havia feito, que havia deixado de fazer, que havia dito e ouvido fazia a cabeça girar. A última discussão ecoava ininterruptamente em seus pensamentos. Cada insulto e agressão parecia cortar a pele, e um súbito sentimento de culpa sufocava o coração. Tirou toda a roupa despindo-se de seus problemas, um a um, peça por peça. Ligou o chuveiro e deixou a água gelada cair sobre a cabeça. Sentiu o choque térmico e tremeu, mas não recuou. Esvaziou a mente. Parou de pensar para simplesmente sentir cada gota que molhava seu corpo. Ensaboou-se delicada e milimetricamente, como se aquele fosse o último e o primeiro momento de sua vida. Viu descer pelo ralo toda a sujeira, dor, culpa e tristeza que antes carregava. Assim foi seu purgatório. Saiu do banho purificada, e vendo os primeiros raios de sol iluminarem e aquecerem a cidade, teve a certeza absoluta de que tudo ficaria bem.
(Esse blog está virando uma releitura de outros blogs e espaços! Só reproduzo o que é dos outros! Será falta de inspiração? Humildade para reconhecer que outros escrevem melhor o que eu escreveria se exteriorizasse o que sinto? Simples afinidade? De qualquer forma, é maravilhoso esse intercâmbio, essa "rede"! E é ótimo também a gente poder homenagear nossos "irmãos" blogueiros!)

3 comentários:

Cacau disse...

O Queijo com chocolate está virando uma verdadeira suruba literária!

Lu Morena disse...

"suruba literária" é ótimo!!

Eu li sim! Tudo a ver com aquele comentário e muito bom o António Gancho! Várias imagens lindas na poesia dele, sem vírgulas, sem limitações! Gostei especialmente do último, da noite" Sem falar que morrer de rir, literalmente, é super literário!
Bjins!

J.M. de Castro disse...

Suruba literária...Festa de Dionísio...o que vale é que existe uma energia que vc tenta reter, recuperar, de uma união, de um grito que não é escutado,para escapar dessa nossa prisão aqui. Prisão-monográfica-literária-surda-individual!!