terça-feira, 31 de julho de 2007

A vida é uma sucessão de mortes

"(...) Norma já tinha morrido. E antes dela o filho. Antes do filho, o marido. Antes do marido, a nossa mãe, ou não? a nossa mãe não morreu depois do filho? e mais longe ainda, no começo do mundo, o nosso pai. Relembro os mortos, amo-os, mas quedou em mim a agitação. Revejo-os através do meu olhar fatigado e um sorriso ou quê? abre dentro de mim. O meu corpo ressurgiu dentre eles, realizei a minha iniciação através das raízes - que é que pode sobressaltar-me? A paz é minha, eu a vi. Resisti à agonia, estou vivo. Sem dúvida, o resultado era imprevisível, porque muitos caminhos partiam daí e eu podia rir com um riso canino, ou andar aos gritos pela vida, ou chorar à espera de resignar-me, ou olhar apenas de olhos enxutos e esperar as flores novas sobre os túmulos dos mortos, ou. Estou vivo. A terra existe. Eu sei-o."

(Vergílio Ferreira, Alegria Breve)

domingo, 29 de julho de 2007

Anaisa


É bom conversar com minha prima pq ela é totalmente implacável, aí treino minha capacidade argumentativa com ela. Mas, pensando bem, ela é totalmente placável: vive ganhando "plaquinhas" da UFF por reconhecimento por ela ser excelente aluna! MINHA prima, hehe!
Como disse a Táia, voltarredondense não fala, voltarredondense FAZ! O Thiago Pereira, da natação, que sirva de exemplo!

sábado, 28 de julho de 2007

Por quê sempre queremos violar segredos?

Hoje assisti a uma peça de teatro (mamulengo) maravilhosa, do projeto Palco Giratório, promovido pelo SESC, chamado "O incrível ladrão de calcinhas", do grupo "Trip Teatro de Animação", de Santa Catarina. Num dos cenários havia várias caixas e, embora eu soubesse que fosse só cenário, que na verdade não havia nada dentro das "caixas" (entre aspas já que eram apenas simuladas), me deu curiosidade de saber o que havia dentro delas, desejo que pelo menos uma delas fosse aberta para que eu visse seu "conteúdo", independentemente do contexto da peça, que realmente não deixou nada a desejar: cenário, iluminação, som, interpretação, criatividade, roteiro, tudo de excelente qualidade.

Fabrini

Ver tantas coisas bonitas nos fotologs dá até vontade de esboçar uns traços também. Foi o que fiz agora, de acordo com minhas limitações na área. Mas estou apaixonada mesmo é pelos trabalhos expostos no fotolog cujo link é:

http://www.fotolog.com/fabrini

sexta-feira, 27 de julho de 2007

O osso áureo

A minha cachorra ossólatra rói seu vício de estimação com seus dentes calcificados e lodosos de tártaro, deliciando-se no seu egoísmo rosnante, envaidecida de destruir o que detém entre as patas, orgulhosa de seu ofício osso, ossificada no seu perpétuo trabalho dental, forçada a friccionar um falso osso forjado, concentrada no seu labor incessante de quadrúpede obstinada a agradar seus donos com seus gestos fofos de quem rói, rói, rói, como se roesse uma romã em Roma.

quinta-feira, 19 de julho de 2007

Nosso coração bem que poderia ser mera carne. Mas ele sofre reflexos metafísicos.

quarta-feira, 18 de julho de 2007

segunda-feira, 16 de julho de 2007

domingo, 15 de julho de 2007

Preguiça de viver

Arrancava grandes mordidas secas da maçã; na parte cor de marfim da fruta via-se o sangue derivado da gengivite de quem a deglutia. O som de sua mastigação era o de um coelho degustando uma cenoura.
Acabou de comer a fruta, com casca e tudo, e jogou fora o miolo com a semente. Jogou na calçada, onde talvez brotassem macieiras de lixo, vermes, bactérias e moscas. Para não falar nos ratos e baratas.
Chegou em seu prédio e subiu as escadas, lépida, de dois em dois degraus.
Mas logo uma moleza começou a comer-lhe os ossos e ela foi dormir, como fazia quase sempre.

sábado, 14 de julho de 2007

O verdadeiro artista é, antes de tudo, um persistente. Pois num mundo onde arte não vale nada, só se continua criando por teimosia.

sexta-feira, 13 de julho de 2007

Lamento da perda do ideal

Faz tempo que não sou uma mulher corajosa. Aquela que acordava com um punhal na mão rasgando a lona da barraca sob uma tempestade. E que tinha passos determinados e sabia onde queria chegar... Agora, onde mesmo quero chegar? Agora sou um fantoche flácido, os outros têm que decidir por mim o que eu quero, por que eu não quero mais nada ou não tenho mais garras para lutar pelo que quero.
E pensar que muitos acreditaram que eu ia dar certo... a quantos decepcionei! Mas, principalmente, decepcionei-me a mim mesma.

terça-feira, 10 de julho de 2007

Henry David Thoreau, em seu livro Walden

"No soldado atingido por um a bala, os farrapos caem tão bem como um manto de púrpura."
" O homem que afinal encontrou algo a fazer não precisa de um traje novo para executá-lo. Aquele empoeirado, esquecido no sótão por tempo indeterminado, lhe servirá bem. Por isso vos digo, cuidado com os empreendimentos que exigem roupas novas em vez de novos usuários. Se não há como um homem novo, como roupas novas poderiam ajustar-se a ele? Se tendes em vista algum empreendimento, tenta-o com vossas roupas usadas. (...) as roupas portanto não passam da mais superficial epiderme e são puro incômodo. Se assim não pensarmos, estaremos navegando sob falsas bandeiras e no final seremos rejeitados quer diante de nós, quer diante da opinião pública."
"Reis e rainhas que usam um traje apenas uma vez, feito sob medida pelo alfaiate ou costureiro de Sua Majestade, desconhecem o conforto de continuar sentindo uma roupa que assenta bem, e nessa condição se equiparam a cabides de madeira em que se penduram coisas limpas. Cada dia que passa mais nossas roupas se assimilam a nós, recebendo a marca da personalidade de quem as veste, de tal modo que hesitamos ao abandoná-las(...) Vesti um espantalho com o vosso último traje e ficai nu a seu lado: quem não saudaria primeiro o espantalho?"

segunda-feira, 9 de julho de 2007

Ostra às avessas

Às vezes o papel de presente é mais bonito que o próprio presente.
Eu nunca vi um bêbado de guarda-chuva!

domingo, 8 de julho de 2007

A menina triste caminhava com os pés sujos na calçada. Seus cabelos encaracolados pendiam de sua face cabisbaixa. Ela nunca tropeçava numa pedra. Às vezes parava e agachava para admirar um inseto, uma minhoca, um chiclete mastigado com formato exótico. Estava atenta ao que a multidão menospreza. Não, não era autista. Era sensível.