sábado, 29 de dezembro de 2007

As frutas vieram rolando trazidas pelo vento. As maçãs bateram tanto uma nas outras até se transformarem em papinha. É tudo um vento gordo e grávido, com uma garotinha chorando no centro, uma garotinha com a coluna enovelada sobre si mesma, corcunda, carente, amorfa como a massa viscosa e interior de uma barata. E aquela âncora lançada ao mar como se fosse a última esperança. Não devia ter ancorado ali, tão certa de que fazia o certo. O vento rodopiava, insano: a garota deu um tiro no próprio ouvido como se clicasse num botão para acender a luz.

segunda-feira, 17 de dezembro de 2007

Muito se fala em fim da arte. A arte não chegou ao fim, apenas mudou o seu conceito. A arte puramente estética chegou ao fim, sim. Arte não é para enfeitar, para decorar casas. A arte hoje em dia precisa de todo um aparato teórico para justificá-la, seja lá o que for essa arte. Arte é para se fazer pensar, indiferente a qualquer utilitarismo prático. Para enfeitar casas existem empresas de decoração, como a que já citei num post aqui. E a arte está muito além disso.
Link do post de outro blog meu cujo tema se interrelaciona com esse aqui:
e sua continuação:

domingo, 16 de dezembro de 2007

Naquela tarde em que senti seu perfume doce... e você nem estava presente, ao contrário, a 7 horas de distância no mínimo. Fada invisível, você veio me visitar. E suas asas viraram perfume e entraram pelas minhas narinas...

sexta-feira, 7 de dezembro de 2007

já contaram nos dedos as pessoas com as quais podemos conversar sobre literatura sem ser pelo viés do senso comum? ô doido! Quanta gente fútil existe nesse mundo!

válvulas de escape

a vida é tão chata e as pessoas que nos rodeiam, tão vazias, que é por isso que temos realmente que encher a cara de cigarro e bebidas alcoólicas

quinta-feira, 6 de dezembro de 2007

O medo me oprime. Paira sobre mim como um grande corvo etéreo e negro que me envolve com suas asas. E me sufoca: falta o ar: asfixio: medo de quê? Não sei...

terça-feira, 20 de novembro de 2007

O bebezinho

Apaixonou-se por uma garota e a seduziu. Começaram a namorar. Ela acabou apaixonando-se por ele também. Ele chamava-a de "bebezinho". Um dia ele apaixonou-se por outra e terminou com o bebezinho.
O bebezinho então mandou fazer de puro aço luminoso punhal, que cravou repetidas vezes no peito de seu ex-namorado. Não satisfeita, deu um tapa no rosto do morto ensangüentado. Tudo isso em plena Avenida Central.

terça-feira, 6 de novembro de 2007

o medo morde o meu coração...

sábado, 3 de novembro de 2007

O continente esquecido

Estou lendo um livro cujos autores intitulam-no como "multicultural". Na introdução é dito que ele irá abordar manifestações culturais da África, Américas e Ásia, opondo-se assim ao eurocentrismo reinante. O livro até parece ser bem interessante, mas fiquei intrigada, perguntando-me como fica a Oceania...

Já repararam como eu gosto de reticências?

Um bom romance é uma fábrica de sonhos...

O Cúmulo

o Cúmulo da absurdo é a pessoa sentar-se numa área reservada para fumantes e ter a cara de pau de reclamar do cheiro do cigarro...

Poema para chamar Leão

Quem deseja caminhar até o Sol
Com passos lentos sobre um rastro de luz
Como um Pequeno Príncipe
saindo do Pólo-Norte até o Astro-Rei

Tem que ir com calma
Para não despencar do raio quente
Caindo numa poça de gelo.
E então tudo será frustração.

De remar congelando na neve.
Mas se tiver a sorte de encontrar um Leão
Que com sua juba quente
O aqueça do frio
Então poderá talvez sair do rio
De pura amargura e estagnação.

Pássaro alvo que plana.
Na relva garoada de gelo
Atenda ao meu apelo
Evitando a coruja que esplana.

Então alcançarei o apuro
Darei adeus ao agouro
Minh'alma brilhará como ouro
De barra em quilate puro.

E tudo será puro deleite
Gota de mel no leite
Porta aberta da gaiola
E deixarei de ser tola.

Caminho aberto
Longe da arapuca
Brilho de rosa púrpura
Mão enfiada na cumbuca.

Abandonarei a jaula
Livrarei-me desta aula
Que só me reveste de ignorância
E nunca mais terei ânsia.

terça-feira, 30 de outubro de 2007

"(...) vivo o inexorável paradoxo da escolha de ser o que não planejei."

by http://giramundogiraeugirassol.blogspot.com/

segunda-feira, 29 de outubro de 2007

Acima da minha cama há um quadro de rosas todo em madeira. As rosas se sobrepõem, em três níveis de relevo acima do fundo. Há rosas de cores suaves, outras mais vivas e alegres. Nos jarros há pátina. O quadro não tem assinatura. Isso me intriga. Por quê tão belo trabalho não vem assumido por seu minucioso autor? Terá sido mais de um autor? Porque disseram na loja onde foi comprado que ele é de uma “empresa de decoração”, por isso não tem assinatura... Mas que mãos anônimas produziram tão admirável quadro? Pois é um trabalho feito à mão. E a empresa – nem dela há o nome no quadro, nem atrás – sufocou o(s) artista(s) do magnífico quadro, relegando-o(s) ao anonimato...

Fato real

(juro de pés juntos - como se isso fosse de fato uma comprovação... - que não é ficção):

Minha avó paterna serviu refrigerante de guaraná no copo e bebeu um gole:

-humm, tá azedo!

E misturou açúcar e tomou (o refrigerante, engraçadinhos!) satisfeita!

Lembretes

1. comprar gibis da Turma da Mônica para intercalar com minhas maçantes leituras;

2. comprar cocaína (pois a nicotina não está dando conta do recado);

3. comprar (qualquer coisa. Afinal a regra é consumir!).

domingo, 28 de outubro de 2007

Quase não saíra naquele verão. As cortinas baloiçavam-se ao sopro do vento enquanto ele roía várias maçãs arenosas e pouco suculentas. Esse era seu lanche seco. A máquina de escrever empoeirava num canto, enferrujando ao som de Bach... Cortava-se com canivete, criando sulcos em sua carne da qual brotavam rios rubros e vivos e espessos, caudalosos... Manchas de sangue pelas paredes... Fumava maços e maços de Blend, espremia a brasa acesa do cigarro contra a pele. Cicatrizes que iriam marcar aquele tempo de reclusão. A névoa de nicotina evolava-se no ar, condensada no quarto estreito. Pintava quadros com tinta acrílica: marrom, amarelo, ocre. Fazia tempo que não se dedicava à cerâmica. Molhava algodão com acetona para efeitos em suas telas. Uma vez também usou carvão. Traçou o rosto de Sofia com precisão. Depois bateu uma punheta e ejaculou no retrato. Pincelou a porra em cima do carvão, para dar um efeito esfumaçado. Assim pareceu-lhe mais nítido.
Numa noite bebeu álcool de cozinha: não queria sair para comprar vodka. Se bem que preferisse cachaça.
Decidido, num relance pintou um feto abortado em tons de cinza e rosa e sentiu que era um auto-retrato. Quando acabaram seus maços de Blend, fumou O Processo, de Kafka: sentiu gosto de barata!
Revirou uma gaveta antiga e achou um charuto cubano: presente de um amigo que falecera ano passado. Derreteu o charuto e com ele pintou outra tela. Ouvia de seu recinto os favos das árvores estalarem: trec - squint - cleq
Decidiu finalmente se alforriar e assar uma leitoa para Berta, sua única amiga no momento. Temperaria com suco de goiaba e serviria com gorgonzola. Cerveja preta para acompanhar.
Ele fotografou o pôr-do-sol
Escrevia especialmente para alguém que nunca a lia. Era uma desnudadora de nuvens, pastora de um rebanho amorfo e indisciplinável.
Depois de sair do estábulo, ela iria ao Shopping Center, onde havia um Pet Shop, e compraria pasta de dentes para sua égua Karina. Karina não poderia participar da corrida de amanhã sem que seus dentes estivessem brilhando. Não que normalmente seus dentes não fossem escovados, a pasta apenas havia acabado; no estoque do estábulo não havia nem mais uma unidade.
Mas no caminho do Shopping, Viviane viu uma linda orquídea que não hesitou em comprar. Ficaria linda na mesa da sala de estar. E receberia visitas ainda nessa semana: seria um belo ornamento!
Como estava feliz!
Ainda não sabia se ordenava à cozinheira que fizesse mousse de gorgonzola ou patê de espinafre. Era certo que uma coisa não combinava nada uma com a outra e ela teria que decidir por um dos dois! E para sobremesa, o que servir? Meu Deus, em quanta coisa tenho que pensar!
Ligou de seu celular a seu motorista particular, ao qual havia pedido que a deixasse duas quadras antes do Shopping, assim pôde se deparar com a magnífica orquídea. O motorista a pegou na floricultura; ela que não iria entrar no Pet Shop com uma orquídea na mão, o que poderiam pensar? Que ela não tinha criadas que carregassem a orquídea para si? Mas também não deixaria a flor sob os cuidados do motorista, que de jardineiro não tinha nada! Por isso foi ela em pessoa à casa deixar a bela planta com sua criada, que a colocaria no seu jarro de vidro finlandês.
Quando voltava ao Shopping, pensou: preciso trocar meu celular! Já tem DOIS meses que estou com esse!
E depois de comprar a pasta de Karina iria ao salão de beleza cuidar de seu cabelo!
No Pet Shop viu uma linda fita que comprou para enfeitar Karina.
Pagou a fita, ligou para Onofre, o motorista, e, quando chegou em casa, lembrou-se que havia esquecido da pasta de dentes de Karina!
"Meu Deus, como sou uma mulher ocupada!"
O computador, que atrapalha a leitura, tem fortes grades de ferro que não deixam passar a luz do luar.
Flores no cabelo são bregas, mas aquelas duas cor-de-rosa até que dariam um belo par de brincos. Foi quando Ugo bebeu o licor prateado de hortelã. Quase sufocou. Mas apenas deu uma risadinha sarcástica.
A penugem escarlate da colcha da cama era acariaciada por Madame Ricocholette, que quase nunca comia queijo.
E seus dentes afiados eram brancos como uma noite banguela.
Quase amanheço nesse verão.
Nunca é tarde para cessar o olhar sobre o mundo.
Cessou?
Ainda não.
Gosto de confetes.
Não, não os de carnaval, os de chocolate mesmo.
Purgante?
Não, obrigado.
Ah, sim, cravos aceito.
Mas as uvas estão ácidas.
Sim, elas morrem de inveja da tartaruga.
Oh, como esse ruge me dá alergia! Sinto cócegas nos braços!
Nas pernas?
Sim, nas orelhas.
Pena que ele se foi anteontem!

sábado, 27 de outubro de 2007

Estou com medo de tanta coisa que nem parece que eu já vivi tanto... Sinto-me um bebê. O passado está morto, não significa nada, não ressoa na minha alma. Tudo é novo e difícil e mete medo. Não há chão, não há cama, não há repouso. Ninguém para me abraçar e me dizer que não é preciso ter medo. Sou uma criança apavorada, temendo esse universo tão imenso e cheio de estrelas...

quarta-feira, 24 de outubro de 2007

Cerzida

Descreveram-me tão bem aqui, que eu fiquei até intimidada: http://4delicatessen.blogspot.com/2007/08/cerzida.html

terça-feira, 23 de outubro de 2007

osnod

Refeição apetitosa

pelúcia ardente da lagarta
servida numa bandeja de prata

cílios pretos
no cilindro
que enovela-se sobre si próprio
ciciando

termino tudo com uma pisada crocante
escorre o caldo que vai temperar meu alimento

segunda-feira, 22 de outubro de 2007

esmalte magenta descascando: maçã mordida.

domingo, 21 de outubro de 2007

Terra árida.
Fecunda nada.
Terra árida.

sábado, 20 de outubro de 2007

Quando as borboletas dançavam no ar com suas asas prateadas e azuis...

Mas agora só lobos devoram meu coração, com seus caninos ensangüentados, ávidos pela carne crua e viva que, dilacerada, agoniza, mas não morre.

sexta-feira, 19 de outubro de 2007

Insensível

Ela não vê o terremoto dentro de mim.
Por isso para ela tudo é tão simples...

quarta-feira, 17 de outubro de 2007

segunda-feira, 15 de outubro de 2007

Oração aberta

Deus,
já que você é inegável,
livra-me da política
(sem que eu me torne apolítica),
assim como de todos os outros males,
Amém.

Revolta da criatura

Deus - seja lá o que isso for - é tão vaidoso que criou várias ciladas para que no final das contas a gente TENHA que acreditar nele!

sábado, 13 de outubro de 2007

Quase-autismo

Ai que vontade de abraçar alguém, não sei quem
dar um chute na bunda da minha namorada Carência

Mandar ela pra fora da Via Láctea
pra que ela chupe dedo até sair leite

E me deixe em paz!

Mas ela é ciumenta
não deixa ninguém se aproximar de mim

Vive me vigiando de sua sentinela
Com olhos bem abertos
e fuziladores.

Mais que ciumenta, possessiva:
doente

E eu ranjo os dentes
que não mordiscam ninguém

Carentes de outros dentes

que saibam morder delicadamente
como se sorve uma fruta

há quanto tempo não sou p...

Cerrada numa cela entrincheirada do mundo!

Susto

E eu era uma fantasma preto rezando submissa em frente a uma vela, ajoelhada e cabisbaixa.
À minha volta havia um burburinho, um monte de vozes vivas sussurrava.
De repente, uma delas me disse:
- Você está viva!
E eu gritei.

quarta-feira, 10 de outubro de 2007

Até quando
sementes
estaremos entregues
a este passar sobre a terra
exausta de nos esperar?

Até quando havemos de sonhar
ser flor e fruto
e não a dor infinita da morte
do teu olhar?

{Cruzeiro Seixas}

fonte: http://www.prahoje.com.br/bill/?cat=10

domingo, 7 de outubro de 2007

Purgatório

A madrugada estava triste como sua alma. A vida lhe parecia um erro. Tanto já havia chorado, gritado e se desesperado que mal lhe restavam forças para respirar. Tudo que havia feito, que havia deixado de fazer, que havia dito e ouvido fazia a cabeça girar. A última discussão ecoava ininterruptamente em seus pensamentos. Cada insulto e agressão parecia cortar a pele, e um súbito sentimento de culpa sufocava o coração. Tirou toda a roupa despindo-se de seus problemas, um a um, peça por peça. Ligou o chuveiro e deixou a água gelada cair sobre a cabeça. Sentiu o choque térmico e tremeu, mas não recuou. Esvaziou a mente. Parou de pensar para simplesmente sentir cada gota que molhava seu corpo. Ensaboou-se delicada e milimetricamente, como se aquele fosse o último e o primeiro momento de sua vida. Viu descer pelo ralo toda a sujeira, dor, culpa e tristeza que antes carregava. Assim foi seu purgatório. Saiu do banho purificada, e vendo os primeiros raios de sol iluminarem e aquecerem a cidade, teve a certeza absoluta de que tudo ficaria bem.
(Esse blog está virando uma releitura de outros blogs e espaços! Só reproduzo o que é dos outros! Será falta de inspiração? Humildade para reconhecer que outros escrevem melhor o que eu escreveria se exteriorizasse o que sinto? Simples afinidade? De qualquer forma, é maravilhoso esse intercâmbio, essa "rede"! E é ótimo também a gente poder homenagear nossos "irmãos" blogueiros!)

Constatação

Morgana, saiba que a religião de Cristo veio, sim, e transformou o Galhudo em Demônio, acabou com a Mãe, mas que a religião da Deusa, após mais de 2000 anos, está renascendo das cinzas. E com toda a força. É a nova era, é a era da Igreja Católica ruir. Morgana, você tentou salvar sua religião da morte, sendo rígida, e não adiantou: ela morreu, apesar de estar renascendo agora! E o atual papa está fazendo a mesma coisa que você fez após o manso e sábio Merlim - não, não Kevin, o traidor; o anterior -: após o manso e sábio João Paulo II, está sendo radical. O que não vai impedir que a Igreja Católica caia. Afinal suas bases já estão corroídas há muito!
Acordar dói
(...)
O tempo espera-se em pintar-se
de branco
para cegar uma cor
mas a minha flor abria-se de
pétalas
e as várias mãos escreviam um
piano por cima de teclas grãos vários
seguidos uns aos outros.
(...)

{António Gancho}

copiado de http://www.flickr.com/photos/realidadetorta/1487535598/ (mas os créditos são de António Gancho, como já foi explicitado)

Meu sussuro é geada na sua vegetação

amor inútil
coração réptil

eu: fezes que adubam uma flor-amor-mofo

Não tenho estofo
para te conquistar.

Eu adoro o ventar

"Inconfesso-me: é que tu me dóis por todos os lados: é que tu és tão vida e eu sou tão andar pela noite e acordar cedo e não saber ir mais além. Fica. Cobre meu chão com as tuas roupas, me empresta tuas minúcias. Enfeita minha casa com teus rastros, me deixa morar com teus livros tuas roupas teus discos e toda tua beleza que transpassa o teu corpo. E se eu te sorrio tão calma tão dentro do meu sorriso é que minha boca queria te dizer umas tantas coisas que não têm nada a ver com as palavras. Assim como um mergulho fundo, quando é preciso fechar os olhos, cessar o respirar, desprender-se do ouvir e simplesmente abandonar o corpo a uma nova profundidade. Fica: transitemos entre nós: vamos de mim a ti e então deixemos de ir e fiquemos: que ficar é como ser, só que mais perto."

créditos: http://www.fotolog.com/priscillamenezes

Porque eu sei que não fui eu quem escrevi, mas tais palavras incorporam perfeitamente meu sussurro em potencial.

quinta-feira, 4 de outubro de 2007

Torre de Babel

Muito tem se falado em polifonia ultimamente. Mas tal polifonia tem me soado um ruído no qual não se distingüe nenhuma voz com clareza. O sistema (sim, o sistema. Podem me chamar de "conspiratória", se forem ingênuos) quer é nos calar o tempo todo. Então essa poluição sonora é a forma de tornar todo mundo mudo, pois na verdade ninguém é ouvido.

segunda-feira, 1 de outubro de 2007

As pessoas que parecem mais insanas são as mais lúcidas. É, é difícil conviver com lucidez excessiva. E a realidade é absurda, então quem pensa a realidade, pensa absurdamente.

Masturbador convicto

Pra você
sou apenas uma garotinha mimada

cultivando um amor

que não te interessa.

Você não rega essa semente
ela atrofia
abortada.

Meu coração se transformou num masturbador convicto
gozando sozinho sonhos que jamais se tornarão realidade.

quinta-feira, 27 de setembro de 2007

Paracetamol: quase um batom no impressionismo fotográfico.

Esperando Freud

Já que o Zander - roubei um amigo da Maíra. Mas não tem problema, eu divido o Zé com ela - falou de um sonho seu num post, vou descrever o meu último que foi total "non-sense", como costumam ser a maioria dos meus. Eu estava no casamento de um "peguete" meu. O casamento foi assim - ele é ator realmente: ele encenou uma esquete em que ficou com uma garota, com a que julguei que fosse com quem ele iria casar. Como eu não gostei do fim da esquete, eu fiz uma outra em que, encenando eu mesma, no final eu e o meu "peguete" nos "atracávamos" - detalhes não precisam ser pormenorizados. Depois então que realmente nos atracamos, apareceu a mãe dele, que na vida real não conheço, mas no sonho era uma chata - e fútil (queria uma festa apresentável para os convidados dela): então ela me fez sentar numa mesa, disse que agora o casamento iria realmente começar e, pra meu desepero, outra esquete: mas o desesperador era que no final ele casava com outra garota, que não era nem a da primeira esquete. Isso depois de nosso "atraque profundo", pra minha decepção. O mais "non-sense" foi depois. Num setor de uma faculdade vi um ritual satânico realizado com crianças dentro de uma sala fechada - eu vi pela janela - e fui denunciá-lo. Só que, já no caminhar para fazê-lo, "caiu a ficha" de que eu deveria denunciá-lo em outro setor, porque aquele deveria estar - e realmente estava - todo comprometido. Então eu encontrei um homem e disse "eu quero falar com o supervisor". Ele respondeu: "eu vou com você" e me abraçou como um segurança faria com um menor infrator, com força pra não me deixar me desprender mas ao mesmo tempo com certa proteção. Começamos a subir um monte de escadas com ele me abraçando e depois de certo tempo estávamos voando, voamos muito alto até chegar numa lâmina rochosa que ficava suspensa no ar e onde estavam várias pessoas que faziam parte de uma espécie de máfia. Daí pra frente não recordo muito bem de nada, mas se você, que está lendo isso, esperava um fim coerente, bem, meus sonhos são todos assim. Meu inconsciente supera Buñuel.
Tarefa do livro

Li no blogue Boa Noite Cinderella a seguinte tarefa (ou meme, ou corrente, ou praga):
1.- Pegar um livro próximo (PRÓXIMO, não procure);2.- Abra-o na página 161;3.- Procurar a 5ª frase, completa;4.- Postar essa frase em seu blog;5.- Não escolher a melhor frase nem o melhor livro;6.- Repassar para outros 5 blogs.

> Livro: O Silêncio da Chuva, do Luiz Alfredo Garcia-Roza
> Quinta frase completa: “A boca seca pelo vinho fez com que me levantasse à procura de água.”

by http://www.z-cp.com/

Minha tarefa: Livro: Alegria Breve, de Vergílio Ferreira

Quinta frase: "Ninguém me ouvia: acaso falei?"

Aliás, esse capítulo é ótimo: o narrador zoando a imprensa (nada contra os jornalistas, Táia. Ou melhor, quase tudo - eu posso falar pois quase me tornei uma. Mas arranjei uma profissão mais digna. Não pelo salário de merda, obviamente. Pra quem não sabe, sou professora).

Tautologia

Meu corpo inteiro
sorri
ao vê-lo

Palavras se abraçam
ao pensar
em você

Sou repetitiva,
quase obcecada
Da boca pra dentro,
só falo em você

Faço versos sem rimas
que nunca tocarão
seus olhos

Tudo o que calo é da boca pra fora.

(créditos: http://cabriolas.blogspot.com/)

segunda-feira, 24 de setembro de 2007



Roubando um post com o qual eu me identifiquei, de um flog muito bom!


Por hoje, cesso de adensar. Só quero uma superfície calma e macia, onde eu possa descansar a minha espera. Penso-te. Derramo-me em fios de lã, procurando uma mudez entre os lençóis. Penso-te. Ao teu lado (eu), pronunciando teu nome, tomando cuidado em prolongar tuas duas últimas sílabas, te retendo por mais tempo em minha boca. De quando éramos: eu te propunha caminhos. sugeria curvas. tomava o cuidado de não te apontar um destino. um destino qualquer nos mataria. sempre fomos do andar, do percorrer. nunca do encontrar. Agora tudo o que sinto é úmido e salgado, sentires de lágrima e de água do mar. Começas lentamente a perder a cor. Tuas matizes se confundem. Desbotas. Não te conto para ninguém. Penso(te): não existe o tempo, existe apenas a distância. Um corpo que marca o outro e depois se esvai.
Foto: Man Ray – Tears
"Ah, se tu soubesses como é dura a minha sorte. Mas é essa a minha glória, porque é da escuridão mais funda que sobe a árvore mais alta."

(Vergílio Ferreira, Alegria Breve)
"A explicação de nós, do que fazemos e vivemos, é tão ridícula. No fim de contas, apenas constatamos. Mas inventar o porquê, formular uma lei, dá-nos a pequena ilusão de dominarmos o desconhecido. Não dominamos nada: conhecemos apenas a nossa fatalidade."

(Vergílio Ferreira, Alegria Breve)

quarta-feira, 19 de setembro de 2007

Sinto-me como uma madeira seca, oca, podre: sem vida, sem conteúdo, sem seiva bruta nem elaborada. Tronco cortado a machadadas. Longe de suas raízes, sem nunca ter dado frutos e prestes a ser carcomido por cupins. Pelo menos serei alimento a alguns seres depois de uma vida sem préstimo!

terça-feira, 18 de setembro de 2007

A gema de ovo dourada descia no poente contra o preto esverdeado das árvores e a clara celeste se avermelhava.

quinta-feira, 13 de setembro de 2007

quarta-feira, 12 de setembro de 2007


Eis o absurdo

ou
O Surto

(a Camus)

Enquanto eu sentia o sussurrar do além-banal
aquela manada rugia seu silêncio como rinocerontes lutando
batento seus chifres entre si
exalando hormônios que se evolavam no ar
sem nenhuma aplicação consistente
e seu brado era branco
e surdo
ao meu apelo.

Abriu-se uma fenda
entre mim e o mundo.

Haviam dois mundos paralelos.

E eu não pude conter
o furor emanado pela cisão.

segunda-feira, 10 de setembro de 2007

Vejam como estou brega II

Mutante
Rita Lee

Composição: Rita Lee - Roberto de Carvalho

Juro que não vai doer
Se um dia eu roubar
O seu anel de brilhantes
Afinal de contas dei meu coração
E você pôs na estante
Como um troféu
No meio da bugiganga
Você me deixou de tanga
Ai de mim que sou romântica!

Kiss baby, kiss me baby, kiss me
Pena que você não me kiss
Não me suicidei por um triz
Ai de mim que sou assim!

Quando eu me sinto um pouco rejeitada
Me dá um nó na garganta
Choro até secar a alma de toda mágoa
Depois eu passo pra outra
Como mutante
No fundo sempre sozinho
Seguindo o meu caminho
Ai de mim que sou romântica!

Kiss baby, kiss me baby, kiss me
Pena que você não me kiss
Não me suicidei por um triz
Ai de mim que sou assim!

Vejam como estou brega

(O Faith no more num funcionou, não. Nem o Metallica e nem o Sepultura. A paixão tem imunidade alta... vou ver se baixo umas músicas do Obtuary...)

Pra Você Eu Digo Sim
(versão de Rita Lee para "If I feel", dos Beatles)

Se eu me apaixonar
Vê se não vai debochar
Da minha confusão
Uma vez me apaixonei
E não foi o que pensei
Estou só desde então...

Se eu me entregar total
Meu medo é
Você pensar que eu
Sou superficial...

Se eu não fizer
Amor
assim sem mais
Se você brigar
E for
Correndo atrás de alguém
Não vou suportar
A dor de ver
Que eu perdi
Mais uma vez meu amor
Uuuuh!...

Mas se eu sentir
Que nós estamos juntos
Longe ou a sós
No mundo e além
Pode crer que tudo bem
O amor só precisa de nós dois
Mais ninguém
Uuuuh!...

Se você quiser
Ser meu namoradinho
E me der o seu carinho
Sem ter fim
Prá você eu digo:
Sim!...

domingo, 9 de setembro de 2007

Tá bom, gatinho, já exorcisei meus monstros ouvindo Faith no more! E foi uma paixão tão fuleira que nem precisou de um Sepultura, haha! Muito menos um Obtuary, que você nem deve saber o que é, seu idiota!
vou processar meu inconsciente
por ter se (me) apaixonado por um indigente
tenho provas guardadas em gavetas
de que o meu inconsciente é responsável
pelas minhas turbulentas metas
vou processá-lo
exorcizá-lo
da minha mente

porque ele mente
me engana
me fere
me polui

Ui!
que raiva
inconsciente do inferno
(pior que o descrito por Dante)
não mereceria isso
nem mesmo um elefante!

Planos macabros
tramados contra mim
já declarei
uma guerra sem fim!

sábado, 8 de setembro de 2007

Ai, que vontade! III

Ai, que vontade
de não ter mais vontade!

Ai, que vontade! II

Ai, que vontade
de rabiscar
de me matar
de pular a cerca
de mudar a rota
soltar um arroto
alterar a meta
dar a boceta.

De bocejar
me masturbar
fugir do lar
de assassinar
(a psicóloga).

Ai, que vontade
de assinar o divórcio
me entregar ao ócio
comer silício
cair no vício.

Andar pra trás
que me desfaz
essa sua ausência.

De seqüestrá-lo
e estuprá-lo
e saciá-lo.

De ficar nua
no meio da rua
de comer sopa
andar na garupa
da sua moto.

Beijar sua foto
ser sua puta
comer farofa
ser terremoto.

De serenar
de chover
de tempestar
pra encharcá-lo.

Esfaquear o galo
queimar dinheiro
ir no banheiro
e vomitar
o mundo inteiro!

Ai, que vontade!

Ai, que vontade
de quebrar a casa
de quebrar a cara
de quebrar o canto
o encanto,
o conto,
o verso, a rima.

Que vontade
de pôr fogo na cama
de queimar a Bíblia
de queimar incenso
de queimar um.

De cagar no mundo
de parir uma vela
e soltar um pum!

quinta-feira, 6 de setembro de 2007

Ainda sobre o anti-americanismo

Como se pode apreender do título do post anterior, estive participando da V Semana de Pesquisa em Letras nos últimos dias, inclusive fui eleita por uma das organizadoras do evento como a participante mais assídua do mesmo. Então, resolvi relaxar jogando um video-game desses que se baixam da internet, o Castle of Illusion, joguinho que tem como protagonista o Mickey, que eu costumava jogar no Master System durante minha adolescência, já que eu não tinha moral ($) para ter o Mega Drive, video-game mais "evoluído" da mesma marca (Sega). E, jogando, pensei que, por mais que já tenham chamado o Walt Disney até de assexuado - o que não deixa de ser relevante - e acusado-o de ter cooperado com a Política da Boa Vizinhança estadunidense (Zé Carioca, exemplo gritante), não é nada tão pútrido assim usufruir dos personagens da "Coca-cola do desenho animado". O problema é só absorvermos o que vem de fora, só importarmos, a troca deveria ser de mão-dupla, num nível equivalente, o que não é o que acontece. Pouquíssimos americanos já devem ter ouvido falar em Maurício de Souza (muito superior a Disney, aliás), apesar de, já faz certo tempo, eu ter lido em algum lugar que o Maurício ia publicar gibis nos EUA (só que, pasmem, com a condição de seus personagens terem que freqüentar a escola e usar calçados, o que a maioria deles - seus personagens - não faz. Será exigência da Nike, a "Coca-cola dos calçados"? Seria muito perigoso para ela que os americanos resolvessem sair por aí andando descalço, como o faz a Mônica). Enfim, deveria haver realmente uma globalização, e não uma americanização, que é o que acontece!

Na V Semana de Pesquisa em Letras da UFES, durante um dos simpósios (não foi o no qual apresentei comunicação)

Eu:
sufocada.
Um monstro boschniano devorando-me por dentro.
Triturando, deglutindo meu coração.
Ao "cadáver ambulante" X. Diógenes:

- Tim Burton o adoraria como protagonista...

segunda-feira, 3 de setembro de 2007

sexta-feira, 31 de agosto de 2007

Fechei-me como uma ostra
como uma caixa de bosta
e nessa conversa "nossa"
em que meu coração monologa
só e aflito
sem seu pito
ele quase foge do peito.

Uma abordagem não usual sobre o racismo

O anti-americanismo é tão grave quanto o anti-semitismo. Americano também é gente e, no fundo, também vítima de um governo idiota.

Tudo bem, as religiões, sob uma ótica marxista, são realmente um aparelho ideológico do Estado. Mas também tem seu lado positivo. O que isso tem a ver com o que disse sobre os americanos? Uma vez, numa viagem de ônibus de Barra Mansa a Volta Redonda, conheci uma americana maneirassa de Seatle, e ela só puxou conversa comigo porque ela estava no Brasil como missionária de uma religião - que nem lembro mais qual é - e ela tinha como papel cativar as pessoas com o intuito de posteriormente convidá-las a participar de sua religião. Mas ela foi super simpática, nada de lavagem cerebral em cima de mim, só um convite sutil para ir à igreja dela no final da conversa. Aliás, ela acabou descendo no mesmo ponto que eu, pois a igreja dela ficava justamente na mesma rua onde eu morava na época.

quarta-feira, 29 de agosto de 2007

Tributo a João Cabral

Meu trabalho é um "cão sem plumas", uma "flor sem perfume": eu NÃO uso detergente de morango!


(Coisa mais esdrúxula detergente de morango!)

Mas, ao contrário do Capibaribe, meu trabalho árduo é fecundo, e me dá orgulho executá-lo.

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“(...)
porque é mais espessa
a vida que se luta
cada dia,
o dia que se adquire
cada dia
(como uma ave
que vai cada segundo
conquistando seu vôo).”


(O cão sem plumas, João Cabral de Melo Neto).

terça-feira, 28 de agosto de 2007

Raiz podre

Sobre a cordialidade do brasileiro, Sérgio Buarque de Holanda esqueceu de dizer que tem um estado em que ela não se aplica: o Espírito Santo (ou seria Espírito de Porco?).
Seu Adamastor saiu de casa todo elegante com seus cabelos brancos, roupa nova e um embrulhinho na mão.
Na primeira esquina, passou um pivete que, ágil, aproveitando-se da distração de seu Adamastor, catou-lhe o embrulho.
Seu Adamastor, indignado:

- Poxa, até meu exame de fezes!

sábado, 25 de agosto de 2007

As brincadeiras sérias

(Valdo Motta)

Por amor, sou aio e amo
de quem amo, e o persigo,
me abomino na lama,

enfrento qualquer perigo.
Se amo mesmo quem amo,
sou meu próprio inimigo,

Pois matei o que morreu
em mim ao me dar sem dó
a mó que moeu meu eu.

Só pode amar quem moeu
seu eu na amorosa mó,
e desse pó renasceu.

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Perdoem-me porque não sei se todos os versos se iniciam com letra maiúscula ou não, é que copiei isso de uma cópia - minha mesmo, mas nem lembro de onde copiei - na qual estavam todas as letras, inclusive as do interior do verso, com letra maiúscula. O mesmo se dá com o poema de Paulo Leminsky abaixo.
Amor, então
também acaba?
Não, que eu saiba.
O que eu sei
é que se transforma
numa matéria-prima
que a vida se encarrega
de transfromar em raiva.
Ou em rima.

(Paulo Leminsky)

Soneto do maior amor

(Vinícius de Moraes)

Maior amor nem mais estranho existe
Que o meu, que não sossega a coisa amada
E quando a sente alegre, fica triste
E se a vê descontente, dá risada.

E que só fica em paz se lhe resiste
O amado coração, e que se agrada
Mais da eterna aventura em que persiste
Que de uma vida mal-aventurada.

Louco amor meu, que quando toca, fere
E quando fere, vibra, mas prefere
Ferir a fenecer - e vive a esmo

Fiel à sua lei de cada instante
Desassombrado, doido, delirante
Numa paixão de tudo e de si mesmo.

terça-feira, 21 de agosto de 2007

segunda-feira, 20 de agosto de 2007





Vida: garganta-esgoto-fossa-abismo que draga tudo.
Continuação da série "Paixonite aguda" (e platônica). Só que esse é atual, escrito no dia 18 de agosto agora:

Ai, que paixão doída!
Dá um frio na barriga!
Dói tudo: dói umbigo,
dá nariz entupido!

Dá tudo,
menos amor de volta.
E é por isso que eu me digo:
"Minha filha, não se empolga!"

sexta-feira, 17 de agosto de 2007

Poema meu publicado no Recanto das Letras em 21/01/2007 (estou totalmente retrô...):

Súplica

Eu: coberta de pólen, pelúcia, pluma, plúmbeo pó.
Você acompanhado e eu só.
Minha fada me quer, você não.
Eu passo fome e você mastiga o pão,
deixando as migalhas caírem no chão.
Bóio num grande lago,
você no cigarro dá um trago.
Cigarro, pólen, pão,
tudo perdido no espaço.
Deus, atento, desenha traço por traço
da ilustração desse calhamaço
que você nem quer ler, nem te interessa.
Eu te imploro um minuto de atenção, mas você tem muita pressa.
Eu: bailarina de perna quebrada.
Nunca mais te vi empunhar a espada,
que na sua vida sou apenas figurante.
Você no paraíso e eu no inferno de Dante.
E eu lhe peço: dê-me uma chance
de provar que há mel na minha colméia
que você pode comer até que canse,
até virar centopéia.
Poema meu publicado no Recanto das Letras em 28/08/2006, há quase um ano atrás:

Poema ilegível

Venho lhe comunicar
algo terrível:
estou apaixonada
pelo impossível.

Eu tateio o incorpóreo
e vejo o invisível.
O carro se move
sem combustível.

E nessa vida incrível
traço um plano infalível
pra fugir desse mundo horrível
voando num dirigível.

quinta-feira, 16 de agosto de 2007

Ouvido obsoleto

(aos irmão Guedes Villani)

Meu caracol auricular é fuleiro
Não distinguo nenhum som por inteiro
Passei todo o mês de janeiro
Estudando o batuque do pedreiro
Mas desisti já em fevereiro
Já que meu tímpano é um isqueiro
Que queima todas as notas semeadas pelo mais cuidadoso jardineiro.

Não seja tão encrenqueiro
Deixe em paz o roqueiro
Que se prostitui pelo dinheiro
Tocando música sertaneja no puteiro
Puteiro que é essa sociedade
que fede mais que um banheiro.

Amor volátil

Quando somente tátil
o amor evola
tal como o vírus ebola
contagiando todos:
na rua, na farmácia, na escola.

Quando muito intenso,
vivido com a euforia da rede batida pela bola,
o amor não cola.

Mas o amor sereno
tal como o de Breno
esse sim, leve, ameno.
Amizade que não se evapora.

quarta-feira, 15 de agosto de 2007

Da inspiração

"(...) A busca criativa tem que ser permanente; todos os universos estão cheios de novas a serem reveladas.
O buscador habitual se prepara inclusive para se deparar com o acaso, que, generosamente, passa a produzir tantos resultados que se torna assistente habitual. Além de tudo, o acaso trabalha de graça.
Em resumo: inspiração existe e, se se quiser assim, é o motor (auto ou alter) que leva alguém a criar algo com força de grandioso e que, uma vez expirado (isto é, posto a circular), encontra eco entre seus destinatários."

(Valdir Rocha, na edição de fevereiro-abril da revista Zupi)
"Bem-sucedido, apenas, é o escroto que consegue tirar melhor proveito da sua escrotidão."
(personagem João Dias, do livro Aritmética, de Fernanda Young)
E eu? Sigo "com brilho esse triste caminho de ser escritor no Brasil."
(Lúcio Cardoso, em carta à Clarice Lispector)
"Nós todos somos fracassados, nós todos vamos morrer um dia! Quem? mas quem pode dizer com sinceridade que se realizou na vida? O sucesso é uma mentira."
(Clarice Lispector, no conto "O homem que apareceu", do livro A via crucis do corpo)

terça-feira, 14 de agosto de 2007

No Parque Pedra da Cebola

O galo me observa de cima de seu autismo. O galo é autista. O galo é arrogante. O galo jamais tecerá a manhã com outro(s) galo(s), a não ser pelo canto. O galo canta com raiva. O galo canta com força. com arrogância. impõe seu grito. O galo saiu de meu campo de visão mas ouço seu canto arrogante. O galo estava me vigiando, incomodado com minha presença.
O avião passa e com seu ruído abafa o canto do galo. O galo recolhe-se na sua insignificância.

Carta aberta a Vinícius (psicólogo e fundador do GAIA - Grupo Aberto de Informações Artísticas)


Vinícius,
só hoje, passado tanto tempo que não nos vemos, entendo certas coisas. Só hoje entendo que, na época do GAIA e ainda depois, eu era sexualmente reprimida - pelo menos só hoje entendo a real dimensão e amplitude de tal repressão. Naturalmente que a minha sexualidade - embora não praticada com outrem na época - era saudável, e que a repressão era externa, exercida principalmente por meus pais, eles também, coitados, vítimas de uma sociedade provinciana, religiosa e sexófoba.
Só hoje entendo que deveria ter conversado mais com você, já que você era psicólogo, mas não cortaram só o meu sexo, cortaram também a minha língua a minha fala. Isso é castração. É por isso que entendo Reich: se se reprime sexualmente uma pessoa, ela passará a ser reprimida em todos os outros aspectos.
Só hoje entendo que você provavelmente sabia que eu era cosmopolita demais para viver com pessoas tão provincianas (no colégio, na família, na sociedade em geral daquela cidade interiorana). Talvez - ou melhor, provavelmente - foi por isso que aconteceu o que aconteceu comigo. Eu era uma estranha no ninho. O patinho feio.
Mas todo mundo sabe que no final da história o patinho feio vira um belo cisne. De toda forma, acho que o final da história ainda não chegou: "(...) e o fim dela ninguém sabe bem ao certo onde vai dar".

Monocultura


Há pessoas que só sabem falar sobre religião!


Obs.: engraçado que as pessoas adoram incomodar um fumante, falando para largarmos o cigarro, mas vai falar pra elas largarem o vício da religião... "ninguém merece" o fanatismo!

segunda-feira, 13 de agosto de 2007

Inspiração...


Dearest Cleo, It's over between me and you..._ acrylic and mixed media on wood

(http://www.fotolog.com/matchew)

Love is for the Birds_ acrylic and collage on wood

(http://www.fotolog.com/silvanamello)

Republicando...

Soneto de minha autoria já publicado no Recanto das Letras:

Decadentismo²

1, 2, 3, 4, 5.
5 goles de absinto.
5, 4, 3, 2, 1.
Mais 1 copo de rum.

46, 47, 48, 49, 50.
50 doses de menta.
5³, 7³, 21³, 4², 29³.
29³ tonéis de vodka e gelos em cubo.

E ainda não está bêbada a atriz.
E no quadro-negro risca a bissetriz
de um ângulo agudo

enquanto bebe cerveja no canudo
calcula com cuidado tudo
escreve com cigarro e fuma o giz.

Lembram daquela turminha fofa do ursinho Pooh?


(http://www.fotolog.com/okashi_san)

Árvore no túnel

... e os galhos cresciam desarvoradamente, com suas folhas roçando o cilindro, rumo à luz no fim...

Etimoludia

A serra era como uma ex-carpa: como se só houvesse sobrado o esqueleto cartilaginoso de uma versão em proporções grotescas do referido animal aquático.

D"O amor" clariceano

Mas ninguém falou que, quando os ovos caíram, das gemas escorridas brotaram cogumelos inflados como pães-de-queijo.

Fracaço (sic - em itálico)

Estive com deng (sick).
Mas o viruz (sic), kê (siq)ueria mau,
dez(sic)ntegrou-se.

Ondas escarlates

Estava no metrô lendo Peirce quando esbarraram no meu piercing com uma uma bolsa enorme e meu nariz começou a sangrar tanto que inundou o metrô, afogando todos os passageiros num rio-mar vermelho fluindo veloz com suas corrente rubras.

segunda-feira, 6 de agosto de 2007

Saci

O saci é o verdadeiro símbolo nacional. Ele está para o Brasil tal qual o Tio Sam para os EUA. Pois o Brasil é tão f... igual a um negro perneta, como se não bastasse ser negro (não sou racista, entenda-se bem. O problema é justamente ser negro num país tão racista, e ainda por cima aleijado). Lógico que quando associo o Brasil ao Saci, estou falando do "Brasil povo", que é a maioria de seus habitantes, e não do "Brasil elite", que voa em jato particular de luxo comendo caviar.
A lojinha aqui em São Francisco de Paula - RS, que me inspirou tal post é homônima ao mesmo, porém escrito com "y": Sacy: O "y" é a muleta que o Saci "pegou emprestado" com o Tio Sam para se apoiar... - "pegou emprestado" entre aspas porque Tio Sam não sabe o que é emprestar, compartilhar... e essa muleta tá saindo bem cara!

Orgasmo no esôfago

Hoje experimentei uma nova sensação. Engoli a euforia e ela roçou o início de meu tubo digestivo, após a garganta.
(Também já tive orgasmo no olho. Ele estava coçando e eu comecei a coçar, coçar, coçar, até que... ahhhhhhh!)

Bundalelê

Homem que faz isso deve morrer de vontade de dar o rabo. Deve ser uma oferenda. Algo do tipo: "Vem me comer, vem, tô doido pra te dar meu cuzinho!"

sábado, 4 de agosto de 2007

antevisão (i)lúdica

No passado, previ tanto o futuro que previ inclusive coisas que não aconteceram nem acontecerão jamais.

quinta-feira, 2 de agosto de 2007

Meus filhos


Seleção das "minhas" amêndoas (hehe) para a produção do chocolate. Foto da foto exposta na fábrica de chocolate Paver, em Gramado.

Acaba com Talentos

Acho que nem preciso citar o nome da emissora à qual estou me referindo...

terça-feira, 31 de julho de 2007

A vida é uma sucessão de mortes

"(...) Norma já tinha morrido. E antes dela o filho. Antes do filho, o marido. Antes do marido, a nossa mãe, ou não? a nossa mãe não morreu depois do filho? e mais longe ainda, no começo do mundo, o nosso pai. Relembro os mortos, amo-os, mas quedou em mim a agitação. Revejo-os através do meu olhar fatigado e um sorriso ou quê? abre dentro de mim. O meu corpo ressurgiu dentre eles, realizei a minha iniciação através das raízes - que é que pode sobressaltar-me? A paz é minha, eu a vi. Resisti à agonia, estou vivo. Sem dúvida, o resultado era imprevisível, porque muitos caminhos partiam daí e eu podia rir com um riso canino, ou andar aos gritos pela vida, ou chorar à espera de resignar-me, ou olhar apenas de olhos enxutos e esperar as flores novas sobre os túmulos dos mortos, ou. Estou vivo. A terra existe. Eu sei-o."

(Vergílio Ferreira, Alegria Breve)

domingo, 29 de julho de 2007

Anaisa


É bom conversar com minha prima pq ela é totalmente implacável, aí treino minha capacidade argumentativa com ela. Mas, pensando bem, ela é totalmente placável: vive ganhando "plaquinhas" da UFF por reconhecimento por ela ser excelente aluna! MINHA prima, hehe!
Como disse a Táia, voltarredondense não fala, voltarredondense FAZ! O Thiago Pereira, da natação, que sirva de exemplo!

sábado, 28 de julho de 2007

Por quê sempre queremos violar segredos?

Hoje assisti a uma peça de teatro (mamulengo) maravilhosa, do projeto Palco Giratório, promovido pelo SESC, chamado "O incrível ladrão de calcinhas", do grupo "Trip Teatro de Animação", de Santa Catarina. Num dos cenários havia várias caixas e, embora eu soubesse que fosse só cenário, que na verdade não havia nada dentro das "caixas" (entre aspas já que eram apenas simuladas), me deu curiosidade de saber o que havia dentro delas, desejo que pelo menos uma delas fosse aberta para que eu visse seu "conteúdo", independentemente do contexto da peça, que realmente não deixou nada a desejar: cenário, iluminação, som, interpretação, criatividade, roteiro, tudo de excelente qualidade.

Fabrini

Ver tantas coisas bonitas nos fotologs dá até vontade de esboçar uns traços também. Foi o que fiz agora, de acordo com minhas limitações na área. Mas estou apaixonada mesmo é pelos trabalhos expostos no fotolog cujo link é:

http://www.fotolog.com/fabrini

sexta-feira, 27 de julho de 2007

O osso áureo

A minha cachorra ossólatra rói seu vício de estimação com seus dentes calcificados e lodosos de tártaro, deliciando-se no seu egoísmo rosnante, envaidecida de destruir o que detém entre as patas, orgulhosa de seu ofício osso, ossificada no seu perpétuo trabalho dental, forçada a friccionar um falso osso forjado, concentrada no seu labor incessante de quadrúpede obstinada a agradar seus donos com seus gestos fofos de quem rói, rói, rói, como se roesse uma romã em Roma.

quinta-feira, 19 de julho de 2007

Nosso coração bem que poderia ser mera carne. Mas ele sofre reflexos metafísicos.

quarta-feira, 18 de julho de 2007

segunda-feira, 16 de julho de 2007

domingo, 15 de julho de 2007

Preguiça de viver

Arrancava grandes mordidas secas da maçã; na parte cor de marfim da fruta via-se o sangue derivado da gengivite de quem a deglutia. O som de sua mastigação era o de um coelho degustando uma cenoura.
Acabou de comer a fruta, com casca e tudo, e jogou fora o miolo com a semente. Jogou na calçada, onde talvez brotassem macieiras de lixo, vermes, bactérias e moscas. Para não falar nos ratos e baratas.
Chegou em seu prédio e subiu as escadas, lépida, de dois em dois degraus.
Mas logo uma moleza começou a comer-lhe os ossos e ela foi dormir, como fazia quase sempre.

sábado, 14 de julho de 2007

O verdadeiro artista é, antes de tudo, um persistente. Pois num mundo onde arte não vale nada, só se continua criando por teimosia.

sexta-feira, 13 de julho de 2007

Lamento da perda do ideal

Faz tempo que não sou uma mulher corajosa. Aquela que acordava com um punhal na mão rasgando a lona da barraca sob uma tempestade. E que tinha passos determinados e sabia onde queria chegar... Agora, onde mesmo quero chegar? Agora sou um fantoche flácido, os outros têm que decidir por mim o que eu quero, por que eu não quero mais nada ou não tenho mais garras para lutar pelo que quero.
E pensar que muitos acreditaram que eu ia dar certo... a quantos decepcionei! Mas, principalmente, decepcionei-me a mim mesma.

terça-feira, 10 de julho de 2007

Henry David Thoreau, em seu livro Walden

"No soldado atingido por um a bala, os farrapos caem tão bem como um manto de púrpura."
" O homem que afinal encontrou algo a fazer não precisa de um traje novo para executá-lo. Aquele empoeirado, esquecido no sótão por tempo indeterminado, lhe servirá bem. Por isso vos digo, cuidado com os empreendimentos que exigem roupas novas em vez de novos usuários. Se não há como um homem novo, como roupas novas poderiam ajustar-se a ele? Se tendes em vista algum empreendimento, tenta-o com vossas roupas usadas. (...) as roupas portanto não passam da mais superficial epiderme e são puro incômodo. Se assim não pensarmos, estaremos navegando sob falsas bandeiras e no final seremos rejeitados quer diante de nós, quer diante da opinião pública."
"Reis e rainhas que usam um traje apenas uma vez, feito sob medida pelo alfaiate ou costureiro de Sua Majestade, desconhecem o conforto de continuar sentindo uma roupa que assenta bem, e nessa condição se equiparam a cabides de madeira em que se penduram coisas limpas. Cada dia que passa mais nossas roupas se assimilam a nós, recebendo a marca da personalidade de quem as veste, de tal modo que hesitamos ao abandoná-las(...) Vesti um espantalho com o vosso último traje e ficai nu a seu lado: quem não saudaria primeiro o espantalho?"

segunda-feira, 9 de julho de 2007

Ostra às avessas

Às vezes o papel de presente é mais bonito que o próprio presente.
Eu nunca vi um bêbado de guarda-chuva!

domingo, 8 de julho de 2007

A menina triste caminhava com os pés sujos na calçada. Seus cabelos encaracolados pendiam de sua face cabisbaixa. Ela nunca tropeçava numa pedra. Às vezes parava e agachava para admirar um inseto, uma minhoca, um chiclete mastigado com formato exótico. Estava atenta ao que a multidão menospreza. Não, não era autista. Era sensível.